Os Caminhos de Santiago são rotas pedestres utilizadas para os peregrinos chegarem ao Apóstolo São Tiago, na cidade de Santiago de Compostela, Galiza, Espanha.
Desde Portugal, o Caminho Português de Santiago possui várias opções assinaladas sendo que o mais conhecido é o Caminho Central Português com a partida desde o Porto.
Fazer os caminhos de Santiago é uma experiência de descoberta, enriquecedora e possivelmente transformadora, que combina desafios físicos, espirituais e emocionais. A nossa superação e resiliência é testada em cada etapa, mas o objetivo de chegar a Compostela, a camaradagem e a solidariedade que encontramos faz-nos iniciar cada dia mais rejuvenescidos. E quando terminamos o que nos proposemos, “nós saímos do Caminho mas o Caminho nunca sai de nós” – palavra de peregrino.
A história do Caminho Português de Santiago
O Caminho Português de Santiago é uma das várias rotas de peregrinação que levam o peregrino a Santiago de Compostela na Galiza, onde, segundo a lenda, estão enterrados os restos mortais de São Tiago. Esta rota possui uma rica história que remonta à Idade Média, sendo uma das mais importantes vias de peregrinação, a par da rota francesa.
A tradição da peregrinação a Santiago de Compostela começou no século IX, após a descoberta do túmulo do apóstolo São Tiago. A partir do século XII, com a construção da Catedral de Santiago de Compostela, a rota ganhou ainda mais importância, atraindo peregrinos de toda a Europa e atualmente atrai peregrinos e amantes da caminhada de todo o Mundo.
Ao longo do Caminho Português de Santiago e das suas variantes, foram-se desenvolvendo ao longo dos anos, vários monumentos e igrejas que enriquecem a experiência de quem faz o caminho. As variantes do Caminho Português de Santiago mais conhecidas são o Caminho Central Português e o Caminho da Costa.
Realizar o caminho com crianças?
Quando pensamos em realizar um dos caminhos de Santiago, esta foi uma das primeiras questões com que nos deparamos. Seria possível levar a nossa filha de 7 anos a viver esta experiência enriquecedora, tanto espiritual como cultural? Depois de pesquisarmos na Internet fomos encontrando o relato de alguns casais que o fizeram, sendo assim possível, embora necessitasse de mais preparação e planeamento. Quanto ao planeamento:
- Transporte da criança: No nosso caso, optamos por comprar um carrinho de passeio, que permitia levar a nossa filha, quando esta não quisesse nos acompanhar a caminhar. Apesar de já ter 7 anos, o tamanho do carro permitia que ela se sentasse, descansasse e nós fizéssemos o percurso em menos tempo. Sendo carrinho de passeio teve a vantagem de ter umas rodas mais elevadas, o que tornou mais fácil fazer os trilhos mais difíceis, ter espaço para a mala dela, e proteção contra a chuva.
- Planeamento das etapas: O outro cuidado que tivemos foi com as etapas. Optamos por fazer apenas os 100km finais, permitindo obter a Compostela, em etapas de mais ou menos 20km. Esta escolha pretendeu diminuir o número de dias em peregrinação para os conjugar com as nossas férias.
- Alojamento: Outro cuidado que tivemos foi em questão ao alojamento. Optamos por ficar em alojamentos locais, ou hoteis com reservas antecipadas, para quando necessário, podermos cozinhar e para estarmos em família. Evitamos assim as residências de peregrinos, já que em algumas não haveria quartos familiares. Além disso permitiu ainda termos uma maior segurança na existência de vagas no alojamento, já que algumas residências não permitem a reserva antecipada.
- Forma física: Fazer 20 km com uma mochila às costas é bastante diferente do que fazer 20 km com uma mochila às costas e empurrando um carrinho de passeio com uma criança. É preciso ter a noção que os caminhos não são planos e há etapas com grandes declives. Como preparação, fomos fazendo várias caminhadas em família, umas vezes sem o carrinho, e outras com o carrinho.
Resumindo, é possível o Caminho de Santiago com crianças. Aliás, não fomos o único casal com crianças a fazê-lo. Durante o nosso percurso encontramos várias crianças a acompanhar os pais, embora fossem todas um pouco mais velhas. Foi uma aventura desafiadora e ofereceu uma excelente oportunidade para criar memórias em família. A mais pequena adorou a experiência e acabou por passar a maior parte dos dias a caminhar, usando muito pouco o carrinho.
Etapas
Tal como já referido, fizemos a nossa peregrinação desde Valença, Portugal, cumprindo os últimos 100 km.
Para a preparação das etapas, utilizamos as partilhas nas redes sociais e também a APP Camino Ninja. Esta foi ainda usada para sabermos a distância que nos separava das localidades ou do destino final.
As nossas etapas foram as seguintes:
Etapa 1: de Valença a O Porrinõ
O nosso percurso inicia-se em Valença do Minho e esperava-nos uma etapa de 20km. Valença do Minho é uma cidade que foi uma enorme surpresa para nós, porque ao percorrer a parte antiga da cidade, fortificada, oferece vistas deslumbrantes sobre o rio Minho e Espanha. Além disso, o seu centro é bastante dinâmico, animado e cheio de comercio. Foi no centro de Valença que pernoitamos e de manhã bem cedo iniciamos a nossa caminhada tendo como primeiro objetivo a passagem pela antiga ponte internacional que Liga Portugal a Espanha.
A travessia da ponte foi realmente um ponto alto do nosso dia. Foi aqui que sentimos que a nossa aventura iria realmente iniciar-se. Do outro lado encontrava-se a cidade de Tui, que ainda adormecida e com as ruas quase desertas, acolhe os peregrinos de braços abertos.
Tui possui igualmente um centro histórico muito bonito e bem conservado, mas apenas estava aberto a catedral que se encontra ao longo do caminho assinalado.
Ao sairmos de Tui, iniciamos os percursos pelo meio da natureza e mais afastado de estradas principais. O percurso foi sempre bastante bonito e acompanhado de alguns cursos de água. Junto a Ponte de Veiga encontramos uma escultura que homenageia os peregrinos.
Nos percursos florestais seguintes e devido às chuvas frequentes tivemos que passar um dos cursos de água descalços e com o carrinho em mãos. Foi neste ponto que começamos a sentir a camaradagem e o apoio que une todos os peregrinos.
Após o trecho do percurso mais bonito e chegados à zona de Os Eidos, o percurso possui uma bifurcação. O percurso original segue por uma zona industrial enorme (Polígono Industrial de O Porrinõ com a dimensão de 5km) e o desvio segue por uma zona mais verde com 7km, atravessando a Área Natural Protegida das Gândaras de Budinõ. Não tivemos a experiência de conhecer a zona verde, uma vez que optamos pela zona industrial, devido à chuva que se fazia sentir e também por ser domingo e todas as empresas se encontrarem fechadas.
O Porrinõ é uma pequena cidade com um centro histórico bonito e que merece um passeio pelas suas ruas. Foi isso que fizemos durante o resto do dia. Caminhamos pelas suas ruas já ao fim do dia e já sem chuva.
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